quinta-feira, 28 de março de 2013

déjà vu (II)?

Ontem estive a optimizar o meu indicador macro-económico pois havia algumas coisas a afinar tais como:
  1. Todos os indicadores devem ter a mesma unidade de medida pois, caso contrário, o resultado nunca seria consistente;
  2. Como não uso indicadores ajustados à sazonalidade, algums indicadores apresentavam-se demasiado voláteis pelo que, nesses casos, optei por usar a média móvel de 3 períodos (normalmente meses);
  3. Finalmente, observei que alguns indicadores eram melhores do que outros a preverem recessões e que outros indicadores poderão ser melhores a preverem recuperações económicas. Por isso, daqui para a frente usarei diferentes indicadores nas diferentes fases do ciclo económico. Actualmente, considero apenas os indicadores que se revelam melhores a preverem recessões pois já estamos numa fase avançada da expansão económica.
Sendo assim, eis como teria sido a evolução do índice macro-económico avançado em 1999 comparado com o S&P500:


O mesmo para 2007:


E actualmente, Março 2013:


Votos de uma boa páscoa,

DS

Embustes?

Apenas quero deixar alguns comentários à entrevista do ex primeiro-ministro na RTP que, aparentemente mas não surpreendemente, terá tido muita audiência. 

Pessoalmente, apenas tive pachorra para ver uns 2 ou 3 minutos. Mas, depois de ler o resumo do Expresso, eis os meus comentários e sobretudo alguns factos:

Sobre a crise política:
O fim do governo de Sócrates começou no parlamento com o chumbo do PEC IV e, por isso, o Presidente da República não esteve na origem da actual solução política nem é o seu patrono. Ponto.

Sobre os problemas do país:
Há que reconhecer que na arte de arranjar bodes espiatórios para as suas borradas, Sócrates sempre foi um mestre! Certamente que a crise internacional não facilitou a vida ao governo do PS mas um líder e sobretudo um homem de estado nunca usaria esse desculpa para justificar o total falhanço que foi a sua governação. Ponto.

Sobre a ideia de que foi a sua governação que levou ao pedido de ajuda externa:
Então foi a governação de quem? A do Passos Coelho ou do Paulo Portas?? A minha ou da do meu vizinho do lado???

Sobre a ideia de que o actual Governo se limitou a aplicar o memorando que tinha sido negociado pelo Governo anterior:
É claro que não. O actual governo tem toda a legitimidade de ajusta o programa de acordo com as suas ideologias, boas ou más. E responderá por isso a seu tempo. Ponto.

Ver também:


DS

Chipre, precedente ou caso único?

Aparentemente a comunidade financeira ficou chocada com as recentes declarações do novo presidente do Eurogrupo, o senhor Jeroen Dijsselbloem, que disse "caso os bancos não consigam capitalizarem-se, o Eurogrupo dirigir-se-á então aos accionistas e credores e, se necessário, aos proprietários de depósitos não garantidos (mais de 100.000€)."

Pessoalmente, a única parte que me chocou foi a parte dos depósitos. É óbvio que os accionistas e credores devem ser responsabilizados mas isso é mais fácil de dizer do que fazer quando se deixa os problemas atingirem as proporções do caso cipriota...

Sinceramente é difícil de perceber se o caso de Chipre terá sido isolado ou se semelhantes virão mas se eu fosse depositante não garantido, por exemplo, em Malta estaria preocupado (gráfico da autoria de James Mackintosh do FT):


Ver também:

Bank assets as multiple GDP

DS

segunda-feira, 25 de março de 2013

Déjá vu?

Eis as reacções dos mercados pós-anúncio nos 3 casos anteriores, do mais antigo ao mais recente.

Maio de 2010, Grécia. Os mercados corrigem aproximadamente 16% em 2 meses:


Novembro de 2010, Irlanda. Os mercados sobem aproximadamente 14% em 2 meses:


Maio de 2011, Portugal. Os mercados corrigem aproximadamente 8% em 2 meses:


Março de 2012, Grécia. Inicialmente os mercados ficam indecisos mas acabam por corrigir aproximadamente 8% em 2 meses:


Março de 2013, Chipre. Qual será a reacção dos mercados a mais este resgate? A julgar pela história, a probabilidade de uma reacção negativa é de 75% (3 em 4). A probabilidade de uma reacção positiva é de apenas 25%. A ver vamos...


Cumprimentos,

DS

Novo acordo para o Chipre

Tudo indica que temos um novo acordo para resgatar os bancos cipriotas. Eis os termos deste acordo que, em princípio, não precisa de aprovação parlamentar pois já não se trata de uma taxa sobre os depósitos seguros (abaixo dos 100.000€) mas sim de uma reestruturação bancária:

1. O banco Laiki é liquidado juntamente com os depóstis acima dos 100.000€ e os depósitos seguros passam para o banco do Chipre;
2. No banco do Chipre os depósitos seguros continuam assegurados enquanto que os depósitos não seguros assumem perdas de 40%...

DS

sexta-feira, 22 de março de 2013

Regresso à realidade?

Depois do rebentamento da bolha das dot.com e das bolhas gêmeas do crédito imobiliário e da construção, chegou agora a vez de rebentar a última bolha: a bolha do crédito público. Tudo indica que o actual ciclo Ilusão-Realidade está prestes a entrar na segunda fase: a realidade. Foi assim com as 2 bolhas anteriores: Tivemos a ilusão das dot.com e depois a realidade. O mesmo aconteceu com a ilusão do crédito imobiliário/construção. Como dizia Albert Einstein, "a realidade é meramente uma ilusão, embora muito persistente".

Exceptuando os casos da Irlanda e da Islandeses - que estavam relacionados com o crédito imobiliário e a construção - os resgates à Grécia e a Portugal foram os primeiros sinais que a bolha do crédito público já está a rebentar. O caso de Chipre está amplamente relacionado com o caso Grego visto que os bancos cipriotas não aguentaram as 2 falências, perdão, reestrurações gregas...

Mas mais ainda irão rebentar mais, resta saber quais? Ninguém sabe ao certo a resposta a essa pergunta mas é possível

O caso mais gritante é obviamente o do Japão que deve uns estimados (para 2012) mas estonteantes 237% do seu PIB. O Japão só conseguiu ir até esse nível porque a sua dívida pública tem sido financiada internamente pelos cidadãos e empresas japonesas. É tipo um micro-sistema de dívida e deflação. No entanto, com a população japonesa a envelhecer e as empresas japonesas a terem cada vez mais dificuldades em exportar, será cada vez mais difícil para o Japão manter esse rumo...

Mas o caso que me preocupa mais para já é o de Itália com um rácio de dívida estimado em 126% do PIB e de dívida externa estimado em 108% do PIB. Ambas as estimativas são referentes a 2012. A somar a isso tudo, o país está actualmente ingovernável pois as últimas eleições foram inconclusivas.

Ver também (em inglês):

Lista de países por dívida pública
Lista de países por dívida externa

Votos de um bom fim-de-semana,

DS

segunda-feira, 18 de março de 2013

Sobre Chipre

Hoje fui avisado por um leitor do blog que Chipre já fazia parte da zona euro. Distracção minha. Sobre Chipre apenas me lembro de andar a ver uns voos e uns hoteis para passar lá uns dias de férias no verão. Na altura a moeda ainda era a Libra Cipriota e lembro-me de que era uma moeda forte relativamente ao euro. Passou-me completamente despercebido que Chipre tinha entrado para a zona euro. Tudo indica que qualquer um entra no clube do euro, bastando para tal cair nas boas graças dos eurocratas.

Por isso removi a minha mensagem anterior sobre este assunto pois baseava-se em pressupostos totalmente errados.

E, assim sendo, esta é uma medida completamente errada, que passa uma mensagem hedionda e cujo potencial de contágio é muito elevado (risk-off)...

Votos de uma boa semana,

DS

sexta-feira, 15 de março de 2013

A história repete-se?

Para quem quer aprender, a história é a melhor fonte de conhecimento. Senão vejamos: o que têm em comum os anos de 1977, 2000, 2007 e 2013? É muito simples: em todos eles houve uma divergência bearish entre as cotações de fecho mensais e a média móvel de 12 meses da variação dessa cotação relativamente ao mês anterior. Vejamos:

1977:


2000:


2007:


2013 (mesmo sem o mês de Março completo, a divergência é já óbvia no final de Fevereiro):


Já agora, a título de curiosidade, apenas em 1987 é que isso não aconteceu e por isso os investidores poderão ter sido apanhados desprevenidos...

Votos de um bom fim-de-semana,

DS

quarta-feira, 13 de março de 2013

Soluções para a crise?

Ultimamente tenho ouvido vários militantes do PS a anunciar diversas "soluções" para esta crise em Portugal. São elas, sem qualquer tipo de ordem:

  1.  Aumentar o salário mínimo;
  2. Relançar a economia estimulando o consumo interno;
  3. Reestructurar a dívida.


Agora irei opinar sobre estas 3 "soluções":

A 1ª revela uma total ignorância sobre a forma como funciona o mercado de trabalho: o mercado de trabalho também está sujeito à lei da oferta e da procura como está todo e qualquer mercado. Por isso, aumentar artificialmente (por decreto-lei) o preço mínimo da procura só iria piorar a situação e fracturar ainda mais este mercado. É que se as empresas já estão a despedir por causa das quebras do volume de negócios ou mesmo dificuldades financeiras, aumentar o preço mínimo da procura é aumentar as razões para despedir. No entanto não quero ser mal interpretado. Conheço bem as difículdades de quem ganha apenas 485€ por mês e tem de contar os trocos no fim do mês. O problema e a solução não passa pelo salário mínimo mas sim pelo aumento da produtividade que, se for bem sucedido, abrirá as portas a aumentos salariais. Infelizmente, olhando para o estado da educação nacional, temo que isso nunca irá acontecer...

Se não for ignorância então é pura demagogia o que ainda é pior pois trata-se de um aproveitamento da iliteracia económica da maioria da população.

A 2ª ainda é mais fácil de avaliar: aumentar-se o consumo interno será sempre com recurso a ainda mais dívida pois é isso que acontece num país que importa mais do que exporta e não é sequer capaz de ser auto-suficiente no sector agrícola. Alias foi essa "solução" que nos trouxe até aqui....

Já sobre a 3ª é só ir ver à Grécia o resultado...

Atentamente,

DS

segunda-feira, 11 de março de 2013

Há uma revolução a acontecer...

Há uma revolução a acontecer no coração da Europa. para já é uma revolução silenciosa mas deverá evoluir para algo mais barulhento e, quem sabe, mais violento. Itália é agora o palco desta revolução com os eleitores a votarem massivamente contra:

  1. A austeridade;
  2. O Euro;
  3. A corrupção;
  4. Os constantes resgates dos bancos, à custa dos contribuintes.

Eis um video de um discurso, em 1998, de Beppe Grillo - que obteve 26% nas recentes eleições legislativas Italianas - a "explicar" como funcionava e continua a funcionar o actual sistema financeiro:





Cumprimentos,

DS

quinta-feira, 7 de março de 2013

Divergência bearish no S&P 500?

Muitas vezes estamos tão absorvidos com tarefas do dia a dia que nos esquecemos de olhar para a "big picture". Isso acontece muito em análise técnica: há que olhar para os diversos gráficos horários (de 1, 3 ou mais horas), os diários e os semanais. Estes são aqueles para os quais mais vezes olhamos e como base nos quais tomamos decisões.

O problema é que quanto menor for a frequência maior será o ruído no gráfico. E quanto mais ruído maior será a probabilidade de tomar decisões erradas. É por isso que, ocasionalmente, é preciso analisar os gráficos mensais.

Foi isso que fiz ontem à noite e valeu bem a pena pois aqui o ruído é praticamente inexistente o que me permite tomar melhores decisões. Acutalmente eu preciso de saber quais as probabilidades de os mercados continuarem a subir. Ou seja, quais as probabilidades de o S&P 500 quebrar em alta a sua última resistência - 1550 USD - antes de retomar o bull market interrompido em 2000. Vejamos então o gráfico mensal do S&P 500 dos últimos 5 anos:


Como se pode ver no gráfico, houve uma divergência bullish entre Novembro de 2008 e Março de 2009, altura em que este rally começou. Para além disso, desde Setembro de 2012 que existe a possibilidade de uma divergência bearish. No entanto, vamos ter de esperar pelo menos até ao final do mês de Abril para que o padrão se confirme pois este mês já temos um máximo superior ao de Fevereiro pelo que só se o máximo do mês de Abril for inferior ao máximo do mês de Março é que poderemos considerar a divergência como confirmada.

Como se pode ver nos gráficos abaixo, essas divergências nos gráficos mensais não devem ser ignoradas pois, antes de 2008, tivemos também uma divergência bearish entre os meses de Maio e Setembro de 2007 seguida do crash do "subprime"... Eis o gráfico:


Entre os meses de Março e Julho de 1998 e os meses de Dezembro de 1999 e Agosto de 2000 também tivemos divergências bearish e já se sabe o que aconteceu depois desses 2 períodos:


Cumprimentos,

DS