Parece-me cada vez mais óbvio que todos os grandes investidores e especuladores sabiam que este momento Minsky (*) estava para vir. George Soros que é obviamente um desses individuos, na categoria de especulador, deu na passada 5ª feira dia 03 de Julho uma entrevista para a revista Alemã Stern onde deixa alguns recados para as autoridades e reguladores.
Cá está a 1ª parte da entrevista traduzida para Português (quem quiser ler já a entrevista na íntegra em Inglês pode fazê-lo aqui):
"Ele fez bilhões nos seus fundos alternativos (hedge funds) e nas suas apostas especulativas no Forex. George Soros vê-se a si próprio mais como um filósofo e crítico do actual sistema económico mundial. Numa entrevista à revista Stern ele adverte sobre as consequências da crise financeira que até agora abalaram principalmente o mercado imobiliário.
Sr. Soros, qual é a sensação de ser um especulador hoje em dia?
Soros hesita mas depois ri. Nem sempre é fácil. No entanto, quando as pessoas perguntam sobre a minha profissão, eu digo: Sim, eu sou um especulador. Eu sou um especulador financeiro, filantrópico e filosófico. E, neste sentido mais amplo, orgulho-me de ser um especulador.
Numa recente entrevista para a revista Stern, o Presidente Alemão Horst Koehler referiu-se aos mercados financeiros internacionais onde, durante o ano passado, voçê fez milhares de milhões de dólares, como um "monstro". Sente-se atingido por essa crítica?
[A hesitar novamente] Há certamente um bocado de verdade, sobretudo no presente. Mas, para ser bem claro: eu sou um especulador mas não defendo o tipo de especulação que tem havido recentemente...
... o que quer dizer com isso…
... porque eu cumpro as regras. E tenho altertado para que haja uma melhor regulamentação dos mercados financeiros faz já algum tempo, por exemplo, no mercado de crédito. Neste sentido, o seu presidente tem razão. Temos de começar a regular melhor o capitalismo. Caso contrário, ele vai destruir a si próprio - e nós vamos destruir a nós próprios.
É isso que parece estar a acontecer neste momento: o preços das matérias-primas, tais como o trigo e o petroleo, que são negociados na bolsa têm vindo a subir como foguetes. Estes preços ameaçam a prosperidade aqui e provocam greves e motins nos países mais pobres. Estarão os especuladores a conduzir o mundo para a sua próxima crise profunda?
Isso é apenas parcialmente correcto visto que todas as especulações têm as suas fundamentações. Vejamos o exemplo do petroleo. Existem uma série de factores responsáveis pela condução de preços.
Tais como?
A oferta e a procura. Muitos dos poços de petroleo são antigos. A sua produção está em declínio, em alguns casos de forma drástica, como no México ou a Arábia Saudita, que são os fornecedores do Ocidente. Como resultado, a oferta é limitada. Além disso, muitos produtores de petroleo têm deixado ricas reservas petrolíferas intocadas, apostando em constantes aumentos dos preços. Outro factor é a crescente procura em países como a China ou a Índia. Além disso, a escalada dos preços ajudar a estabilizar regimes autoritários, corruptos como o da Venezuela, o Irão ou a Rússia. É quase como uma maldição dos recursos naturais. É perverso.
Então isso significa que todos os especuladores estão na verdade inocentes?
Não, claro que não. Os especuladores criaram a bolha acima de tudo. As suas expectativas, as suas apostas ajudaram a impulsionar os preços futuros e as suas empresas também distorcem os preços, o que é especialmente verdadeiro para as matérias-primas. É como entesourar alimentos no meio de uma fome apenas para obter lucros com a subida dos preços. Isso não deveria ser possível. Por isso penso que os grandes fundos de pensões Americanos não deveriam ser autorizados a investir em matérias-primas. E os fundos alternativos (hedge funds) devem ser sujeitos a montantes mínimos de investimento superiores caso pretendam investir em mercados de mercadorias. A actual corrida às commodities lembra-me de uma onda de euforia semelhante há uns 20 anos atrás. Naquela época eram todos obcecados pelos chamados pacotes de seguros de carteiras. Nessa altura também foram os investidores que desestabilizaram o mercado, o que levou a uma euforia generalizada e terminou em 1987 com o já famoso crash.
Não estará outro crash dessa magnitude iminente?
Estamos no meio da pior crise financeira dos últimos 30 anos. vimos recentemente como as bolhas rebentam. Vejamos, por exemplo, a bolha tecnológica ou a actual bolha hipotecária. E ainda não vimos o fim desta última. O declínio irá mais longe do que as pessoas esperam. Creio, que não vimos ainda sequer metade da deterioração dos preços. Durante o próximo ano, mais de 2 milhões de famílias tornar-se-ão insolventes porque não serão sequer capazes de pagar de volta os seus empréstimos. Existe uma enorme destruição de riqueza em curso.
...
"
Amanhã traduzirei a 2ª parte desta deliciosa entrevista.
(*) - Hyman Minsky foi um economista Americano e professor da Universidade S. Louis, em Washington. Foi um estudioso das crises financeiras.
Uma boa semana,
Dax Speculator
O processo de produção capitalista se destina a fabricar riquezas. Para isto preciso de: dinheiro acumulado; meios de produção, matéria-prima e mão de obra. Qualquer lucro que não decorrer da venda de uma mercadoria, está violentando o processo de produção capitalista. Ganhar dinheiro sem produzir nada, apenas usando o poder especulativo é ato de violação do processo capitalista.
ResponderEliminarO processo capitalista para se afirmar precisa da atuação da livre concorrência que funciona como contra peso do preço justo. Se alguma empresa derruba o instituto da livre concorrência e se apossa do mercado, sua conduta é tida como contrária à existência do capitalismo.
O reinvestimento do lucro em seu mercado de atuação é da alma do processo capitalista. Se o lucro é reinvestido em outro país, o processo de produção deixa de ser capitalista, transformando-se em bomba de sucção.
A especulação desenfreada nas bolsas não é defeito do processo de produção capitalista. Essa especulação é uma decorrência do Estado elitista, que existe para ensejar lucros fabulosos para o Grupo 1% da população, a tal elite dominante.
A solução é a chinesa: um Estado socialista, supervisionando um processo de produção capitalista soberano...