terça-feira, 8 de julho de 2008

ENTREVISTA A GEORGE SOROS (II PARTE)

Hoje irei então traduzir a 2ª parte da entrevista que o famoso especulador George Soros cedeu à revista Alemã Stern.

Eis a 2ª parte desta deliciosa entrevista onde George Soros envia mais umas farpas para quem de direito:

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O sr. fala mesmo de uma "super bolha" ...

... Sim. Ela começou a formar-se em 1980, quando a ideologia do fundamentalismo de mercado começou a ganhar cada vez mais adeptos.

Segundo a qual os mercados supostamente se devem auto-regular, as intervenções governamentais devem ser renegadas e eventuais restrições devem ser levantadas.

Tudo se baseou na auto-regulação dos mercados o que, já agora, não foi uma invenção Americana. Tudo começou com Margaret Thatcher no Reino Unido e foi ainda mais promovida e empurrarada para os EUA pelo então presidente Ronald Reagan. Ele até falava sobre a "magia do mercado". Ele que é hoje glorificado quase como um santo. No entanto, estes mercados tão elogiados foram repetidamente e comensuradamente sujeitos a excessivas compras e vendas, o que é quase impossível de controlar. As taxas de juros nos EUA eram tão baixas que os bancos incentivaram as pessoas a contrairem mais e cada vez mais dívida. Isto é chocante, irresponsável. No entanto, até agora não havia razões para esperar que o governo iria intervir quando as coisas ficassem realmente más.

Tal como há um par de meses atrás, quando o banco de investimento Americano Bear Stearns entrou em colapso e o Fed basicamente bombeou bilhões de dólares para o sistema financeiro para evitar novos desastres.

Sim, este é o modo como começa a limpeza, o agora muito falado bailout, ou seja, como comprar o seu caminho para sair da crise. Ainda que em algum momento, o alegado "boom" termina numa crise. E é precisamente isso que nós estamos a assistir neste momento, ao fim de um super-boom, ao fracasso de uma falsa ideologia. Estamos a assistir ao final da sociedade "it feels good", ao fim de uma era.

Quão doente está a economia Americana realmente?

Penso que é inevitável uma recessão. Durante anos, os EUA têm absorvido praticamente todos os recursos monetários da economia mundial - uma vez que o dólar era a moeda que servia de reserva monetária. Nós pedimos dinheiro emprestado a todos, consumimos mais do que produzimos e estamos obviamente altamente endividados. No entanto, hoje em dia, o dólar torna-se cada vez menos importante como moeda de reserva. Os preços estão subindo. O crédito hipotecário e as suas crises são como a espada de Damocles a pairar acima das nossas cabeças. Temos muito pouca margem de manobra. E a Europa também está tentando resolver o problema da forma errada. Receios inflaccionistas levaram o BCE a aumentar as taxas de juro. Isso não é uma coisa inteligente a fazer. Apesar da recessão emanar dos EUA, os Europeus estão prestes a importá-la.

É esta a herança da administração Bush? O Presidente apelidou a crise económica como sendo "um momento interessante" ...

... Eu realmente critico Bush para um monte de coisas - mas, neste caso, ele apenas foi um bom aluno. A sua terrível herança é a chamada guerra contra o terror, que criou razões para ir para a guerra com o Iraque. Bush lesou os nossos direitos civis e a fundação da nossa Constituição.

O Sr. argumenta que os EUA são o maior obstáculo para uma ordem mundial justa e estável.

Sim, e o pior é que Bush abusa do uso da palavra democracia. Ao longo de minha já longa vida, já gastei mais de metade da minha fortuna a promover a democracia no mundo ...

Diz-se que investiu vários milhões de dólares no "Open Society Institute" que o Sr. Soros mesmo fundou ...

... e que, como consequência, aprendi que as pessoas têm de encontrar seu próprio caminho para a democracia. Você pode ajudá-los a chegar lá , mas não pode forçar a democracia nas pessoas. Bush abusou dos princípios da democracia. Esse é o seu património.

Ele tem apenas mais um par de meses no escritório. Em que candidato é que George Soros aposta?

Se os Europeus tivessem possibilidades de escolher, esta seria clara: Barack Obama.

E isso seria uma boa escolha?

Sim, porque Barack Obama é uma figura excepcional, transformadora. Ele tem o potencial para mudar verdadeiramente a América. A sua carreira é prova do que isso. A sua vida como um Afro-Americano numa sociedade branca, o seu esforço no sentido de reconciliação. Ele tem aquilo que é preciso para enfrentar os enormes problemas deste país, porque, no dia das eleições, as pessoas estarão interessadas numa coisa apenas: os seus postos de trabalho e na actual crise. Vai ser uma eleição sobre a economia.

Muitas pessoas dúvidam a América irá realmente eleger um Afro-Americano para Presidente.

Penso que a América está pronta. E isso seria bom para o mundo porque Obama tem uma melhor compreensão do mundo, do que as pessoas sentem, como vivem. E este entendimento do resto do mundo é exactamente do que a América precisa agora. Além de mais, os republicanos estão completamente destroçados.

E, no entanto, as hipóteses de John McCain, herói da guerra, parece ser bastantes boas

Eu respeito-o, à sua história de vida, no entanto ele é quase obsoleto. Não, ele está demasiado enraizado e focado no passado. Isso seria como a eleição de Herbert Hoover ...

... que foi em 1929 e terminou na Grande Depressão.

Não tenho dúvidas de que John McCain é um homem bom. Mas ele é simplesmente o homem errado para o nosso tempo.

Entrevista: Katja Gloger
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Espero que tenham gostado,

Dax Speculator

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