segunda-feira, 3 de setembro de 2012

As mentiras de Jackson Hole

Este fim-de-semana teve lugar a conferência anual dos manipuladores bancos centrais em Jackson Hole, Wyoming, EUA. A figura principal foi, como não poderia deixar de ser, Ben Bernanke da Reserva Federal dos EUA (FED) já que Super Mário não esteve presente.

Eis algumas partes do discurso de Ben que eu não posso deixar de comentar pois considero-as escandalosas:
 
"À medida que avaliamos os benefícios e os custos de abordagens políticas alternativas, não devemos também perder de vista os grandes desafios económicos que afligem nossa nação. A estagnação do mercado de trabalho em particular, é uma grande preocupação, não só por causa do enorme sofrimento e desperdício de talento humano que implica, mas também porque os níveis persistentemente elevados de desemprego vai causar danos estruturais na nossa economia, que poderá durar por muitos anos."
 
O que Ben "se esqueceu" de referir é que a FED é a principal responsável pela estagnação do mercado de trabalho nos EUA: com as suas políticas ZIRP (Zero Interest Rates Policy ou Política de Taxas de Juro Zero) e de manipulação dos preços do activos dos últimos 15 anos, a FED originou um aumento exponencial das disparidades entre as economias desenvolvidas e em desenvolvimento.

Por um lado, as economias desenvolvidas começaram a consumir bens e serviços supérfluos ou, para o caso dos bens duradouros, antes do que seria normal, fragilizando a sua posição financeira. Por exemplo, se uma família na década de 80 trocava de carro de 6 em 6 anos, a partir da década de 90 passou a trocar de carro de 4 em 4 anos recorrendo ao crédito "fácil e oferecido" pelas políticas ZIRP da FED.

Por outro lado, as economias em desenvolvimento foram aumentado exponencialmente a sua capacidade produtiva e acumulando reservas monetárias que foram "re-investindo" em dívida soberana dos países mais consumistas, incentivando políticas erradas e sempre com recurso a mais dívida. Tomando Portugal como exemplo, reformas aos 40 e tal anos por "doença" eram moda na década de 90. Nos EUA foram os programas Medicaid e Medicare, que representam gastos futuros completamente incomportáveis para o governo Americano pois este terá em breve que optar por reformar esse programa ou então falir!

Em 2008, esse cíclo vicioso foi quebrado e todos previsíveis problemas apareceram e perduram até aos dias de hoje pois os bancos centrais não deixam os mercados funcionarem...
 
"As LSAPs (Large-Sized Asset Purchases, compras de grandes portes) parecem também ter impulsionado os preços das acções, presumivelmente tanto pela redução das taxas de desconto como melhorando as perspectivas económicas. Provavelmente não é coincidência que a recuperação sustentada dos preços de acções dos EUA começou em março de 2009, logo após a decisão do FOMC de expandir as compras de títulos. Este efeito é potencialmente importante, porque os valores de ações afetam tanto a decisões de consumo e investimento."

Como já referi no comentário anterior, no que diz respeito ao consumo não há dúvidas que essas políticas têm sido positivas, faltando saber a que custo mas isso é tema para outra discussão...
 
Já o investimento real não residencial - que é o que cria a maior fatia de emprego de longa duração (a preocupação de Ben) - cresceu apenas 11.6% nos últimos 11 anos e meio, ou seja, um crescimento anual médio de apenas 1% desde Janeiro de 2000, o que para uma economia com um suposto potencial de crescimento de 3% deixa muito a desejar:


 

 
Ver também:

Medicaid
Medicare

Cumprimentos,
 
DS
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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