Ou porque a Europa está certa e Obama está errado
Eis o comentário, traduzido para Português, de Michael Sauga, editor da revista Alemã "Der Spiegel". O que estiver entre chavetas ([]) são comentários meus:
"O presidente dos EUA, Barack Obama, sugeriu recentemente que a Europa deve assumir mais dívida para estimular a economia. Em primeiro lugar, foi essa confiança no dinheiro barato que nos levou à crise actual - tanto na Europa como nos EUA. O problema da América não é ter pouco dinheiro. É a falta de produtos competitivos.
"O Jarro Quebrado" é uma das peças mais frequentemente encenadas nos teatros Alemães. Com o juiz Adão, de uma pequena localidade, que julga um crime que ele próprio cometeu, Heinrich Von Kleist criou uma das figuras clássicas de comédia da literatura mundial.
Actualmente, Barack Obama parece estar a retratar uma versão moderna do juiz de Kleist. Ele é cada vez mais crítico em relação aos Europeus por supostamente terem exacerbado a crise económica em curso com a sua prudência. O seu público, no entanto, parece sentir que a situação pela qual Obama lamenta teve origem no seu próprio país.
Ela decorre de uma doutrina que dominou o pensamento económico nas duas últimas décadas e é composta por dois elementos: turbo-capitalismo, cujo único princípio é que qualquer regulação dos mercados financeiros inibe o crescimento, e o seu mais obsequioso, mas não menos perigoso irmão, turbo-keynesianismo.
Os economistas americanos, presidentes de bancos centrais e formuladores de política fiscal têm reinterpretado a ideia inteligente do economista britânico John Maynard Keynes de que o consumo público, ou seja, o aumento da presença do estado na economia é a melhor maneira de contrariar uma recessão económica grave e transformaram-na numa receita permanente. Na versão deles da teoria Keynesiana, uma diminuição do crescimento ou um declínio dos preços das acções solicita os bancos centrais e os governos, respectivamente, a baixar imediatamente as taxas de juros e a lançaram programas de estímulo económico. Os economistas dos EUA chamam a isso "dar um pontapé inicial" na economia [como se de futebol se tratasse].
Lançando as bases para o próximo "crash"
O único problema [único mas suficientemente grande para estragar a "estratégia" destes "génios"] é que este método de encorajar o crescimento não tem estimulado a economia Norte-Americana nos últimos anos mas, pelo contrário, colocou-a em rota de colisão. Desde a crise Asiática, passando pela bolha tecnológica e acabando na bolha imobiliária e do "subprime", os programas de estímulo económico encorajados pelos formuladores de políticas monetária e fiscal têm sido regularmente as bases para o próximo acidente em vez de encorajar o crescimento sustentável. Por exemplo, na última década, o volume de empréstimos nos Estados Unidos cresceu cinco vezes mais do que a economia real.
O dinheiro barato foi o adubo para os excessos do sector financeiro dos EUA. As taxas de juros baixas seduziram os correctores de hipotecas a convencer mesmo os sem-abrigo a pedir créditos hipotecários. E as mesmas taxas tornaram mais fácil aos bancos de investimento e "hedge funds", usando estruturas de empréstimos cada vez mais arriscadas, transformar os outrora vagarosos sectores seguradores e obrigaccionistas em autênticos casinos.
Agora a bolha estourou. No entanto, isso não fez com que o governo dos EUA concluísse que as suas prescrições poderão ter sido erradas. Pelo contrário, agora querem aumentar a dose. Obama tem planos para continuar o muito mal sucedido programa de estímulo económico de 2008 através de um novo programa para este ano. Enquanto isso, o presidente da Reserva Federal Ben Bernanke diz que pretende inundar a economia com liquidez barata - durante anos, se necessário.
O verdadeiro problema, porém, é um diferente. Na economia Norte-Americana não falta dinheiro. Em vez disso, faltam produtos que possam competir no mercado global. O país tem um profundo défice comercial mas a administração Obama está a pedir dinheiro emprestado quase ao mesmo ritmo do que a falida Grécia.
Um fim rápido
Nem mesmo o sector financeiro, com a sua afeição por dinheiro barato, acredita que este é o caminho para os Estados Unidos saírem da crise. Quando a Fed anunciou recentemente a nova versão da sua política de taxas de juro baixas, que ficou conhecida como "Twist", os mercados accionistas resvalaram em vez do impulso esperado.
É ainda mais desconcertante que Obama esteja agora a recomendar aos Europeus que imitem a sua estratégia falhada. Para salvar o Euro, o presidente propôs que a Europa assuma mais dívida para aumentar os seus fundos de resgate e estimular as suas economias. Como um médico apanhado a prescrever esteróides, Obama não escolheu terminar as suas actividades. Pelo contrário, ele tenta garantir que o máximo número de pessoas possível tenham acesso às suas drogas.
O facto de que os Europeus não estão dispostos a cumprir com a estranha lógica de Obama dá motivo para esperança. Não faz sentido acumular mais e mais dívida em cima de pilhas de dívida já instáveis. O mundo não tem pouca dívida, tem muita.
Obama deve rever o seu conselho, ou ele poderá acabar como o juiz da pequena aldeia na comédia de Kleist. Quando sua fraude foi descoberta, ele foi forçado a fugir e os seus dias como juiz chegaram rapidamente ao fim."
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Votos de um excelente fim-de-semana,
DS
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